Estudo revela forma não autoimune de diabetes tipo 1 em jovens africanos – e isso também pode acontecer nos EUA
Um estudo internacional inédito acaba de desafiar tudo o que sabíamos sobre o diabetes tipo 1. Publicado na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology, o trabalho revelou que grande parte dos jovens com diagnóstico de T1D em países da África Subsaariana, como Camarões, Uganda e África do Sul, pode ter na verdade um subtipo diferente da doença – que não é autoimune.
👉 Para entender melhor: a forma clássica do diabetes tipo 1 é causada pelo ataque do sistema imunológico às células produtoras de insulina no pâncreas. Mas o que os pesquisadores encontraram foi que 65% dos participantes africanos com T1D não tinham os marcadores desse ataque imunológico (chamados autoanticorpos contra ilhotas pancreáticas).
Esse achado muda completamente o jogo, porque indica que esses pacientes talvez estejam recebendo tratamentos baseados em um diagnóstico incompleto ou impreciso.
E mais: isso também acontece nos EUA
Os cientistas compararam os dados africanos com registros de jovens com diabetes tipo 1 nos Estados Unidos. A surpresa? Cerca de 15% dos jovens negros norte-americanos com diagnóstico de T1D também apresentavam esse padrão “não autoimune” – com ausência de autoanticorpos e baixa pontuação genética de risco para T1D.
Já entre os participantes brancos nos EUA, o padrão continuou sendo o esperado: mesmo quando os anticorpos não estavam detectáveis, a genética apontava para uma origem autoimune da doença.
O que isso muda na prática?
Se confirmada por mais estudos, essa descoberta pode ter grandes implicações:
Diagnósticos mais precisos: jovens que hoje são tratados como T1D autoimune podem ter um outro subtipo, com causas e respostas diferentes ao tratamento.
Tratamentos mais personalizados: em vez de usar uma abordagem única para todos os casos de T1D, médicos poderão adaptar estratégias para cada subtipo.
Prevenção mais inteligente: entender os mecanismos por trás desse subtipo pode abrir portas para evitar sua progressão.
Uma questão ancestral?
A pesquisadora Dana Dabelea, coautora do estudo, destaca que essa forma de diabetes pode ter origem genética ou ancestral, algo que conecta populações africanas e afrodescendentes. A heterogeneidade do diabetes tipo 1 é maior do que imaginávamos – e precisa ser reconhecida com mais atenção.
📚 Referência científica:
Non-autoimmune, insulin-deficient diabetes in children and young adults in Africa: evidence from the Young-Onset Diabetes in sub-Saharan Africa (YODA) cross-sectional study
The Lancet Diabetes & Endocrinology, 21 de julho de 2025.
DOI: 10.1016/S2213-8587(25)00120-2